OLHAR BRILHANTE

Sonhava-se estrela na madrugada

Brilho no olhar sincero e radiante

Vestido florido, atraente rendado

Anéis dourados, enfeite nos dedos

Colar e pingentes de falso brilhante

Realce na boca o batom carmim

Tinta colorida sobre os cabelos

Dos prazeres da vida nenhuma sequela

Sem noitadas regadas em doses de gim

Sonhos perdidos entre pesadelos

Tão pouco descanso e o Sol já lá na janela

Espelho reflete a pele meio amarela

Maquiagem amiga de toda hora

Espantar para longe o mal olhado

Banhos de ervas, simpatia e guizo

Água de cheiro, guiné, arruda, alecrim

Disfarça a tristeza o costumeiro sorriso

Faz inveja à vizinha, deseja rotineiro bom-dia

Sob a proteção de um deus qualquer

O choro dos pequenos da outra mulher

Sorte ou azar não serem seus

Na porta do bar nas mãos copos de cerveja

Admirada Julieta de faunos Romeus

Cereja do bolo em secretos desejos

Imaginam pecados, alguns sem perdão

Na praça da Igreja o sinal da cruz

Sacristão ignora a atenção da beata

Mendigo interrompe ladainha da esmola

Diz um gracejo e se consola no vira-lata

Moleques distraem-se da pelada de rua

Cabeças na lua, erram o chute na bola,

Ela acha graça, apressa o passo, rebola

Sobe a ladeira iluminando o caminho

Anda cansada de seus dias iguais

Pede ao destino verdadeiro carinho

Ao santo junino simpatias e prece

Runas, tarô e o amor não aparece

Será seu pedido difícil demais

Paixão mais além que o fogo de palha

Sem amor ciumento que também atrapalha

Dia passa sem qualquer surpresa

Rotina danada, exausta volta pra casa

Umidade na face, percebe que chora

Pergunta à tristeza se já não deu a hora

Sonha um par de asas, subir ao céu, ir embora

Desce a ladeira imagem costumeira

Vê velha senhora balançar na cadeira

Imagina-se ela, acha a cena chocante,

Flash... um instante... mudança de planos

Venham paixões sem amor e desenganos

Prazeres carnais, nada mais é o bastante

Sonhada Estrela na madrugada

No olhar um brilho falso e distante

Vestidos sensuais em provocantes pecados

Anéis e colares presentes de amante

Na boca sedução de um batom carmim

Momentos incertos, parceiros errados

Abraço em estranhos, desalinhando cabelos

Se a vida é um voo, que perdoem as sequelas

Das madrugadas regadas a doses de gim

Acenou à vizinha, num bom-dia de adeus

Melhor nem dormir pra não ter pesadelos

A Luz do Sol insiste na fechada janela

Solitária na cama, sono eterno sem par

Estrela é cadente, deixou de brilhar

Sem razão aparente, sem luzes enfim

No ar a Água de cheiro, o guiné, alecrim

Nenhum perfume chique, tecido de cetim

Simples camiseta sobre calça de brim

Notícia correu difícil de acreditar

Homens deixaram a cerveja no bar

Uniram as mãos, restava rezar

Beatas, mendigo, moleques, o sacristão

Subiram a ladeira iluminando o caminho

No céu a tristeza das estrelas cadentes

Uma apagou-se tão de repente

Talvez cansada de seus dias iguais

Olhar brilhante que não se viu mais

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 02/06/2018
Código do texto: T6353940
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