Rugas do tempo.
Deixem as rugas em paz.
Por que tanta perseguição às pobres rugas?
Deixe-as cruzar caminhos na pele, distinguir sorrisos, grifar olhares, zebrar raios de sol.
As rugas contam vidas, perpetuam histórias, desbravam terras nem sempre férteis, mas que foram aradas e deram as colheitas possíveis. Assim como as cicatrizes, são marcas de sobrevivência e deve ser motivo de orgulho, símbolos de reverência.
Negar as próprias rugas é recusar um passado, seja de alegrias ou superações. Eliminá-las por processos cirúrgicos e excesso de preenchimento é soterrar o rio que chamamos de memória, desconhecer o “eu” que se apresenta no espelho.
Esses procedimentos extinguem a expressão humana ocultando a beleza da alma e criando aspectos de museu de cera.
Por onde vão correr as lágrimas sem seus velhos e conhecidos caminhos? Como o rosto vai transmitir completamente seus sentimentos se tem seus músculos paralisados?
Cria-se a ausência de si.
Deixem as rugas em paz.
Não são apenas sinais na pele...
São caminhos percorridos, marcas de prantos e sorrisos, asilaram raios de sol, afagaram a brisa. São estigmas, como motivo de orgulho, insígnia de respeito.
Sigo a vida já marcada e agradeço por isso.
E, por sorte, acaso ou poesia, envio sorrisos emoldurados por vincos, criando presença em mim.