Alzheimer

Estou assim...

sentada

à beira da vida,

sentindo o espaço de viver

que me foi concedido,

escorrer por um tempo

sem sentido e tudo começou

quando eu desembaralhava a fala,

sem mais convicção.

Estou assim...

tão só, a mirar o céu,

o infinito,

desligada de mim

e da vida... vegetante.

Desligada da minha própria lucidez;

Jubilada de acarinhar o seu ser,

como das minhas mãos

a esquentar as suas...

Enfim, estou aqui somente

porque não me sinto,

mas ainda estou viva,

só que não sei se sei.

Estou assim...

desabastecida da sua presença

que consome o tempo mínimo

do amor que não sei o quanto

ainda me resta,

ausente do chão,

vivendo no mormaço

da minha própria existência,

flutuando sem graça,

vazia de ilusão.

Estou assim...

tentando propor ao pensamento,

um tempo de menos obscuridade

e menor sofrimento,

mas este me diz,

que é assim mesmo,

que ainda estou em fase

de esquecimento...

que sou só mais um passageiro

esquecido por todos,

esquecido de si

e do mundo inteiro.

Neila Costa
Enviado por Neila Costa em 31/05/2018
Reeditado em 02/06/2018
Código do texto: T6351655
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