Alzheimer
Estou assim...
sentada
à beira da vida,
sentindo o espaço de viver
que me foi concedido,
escorrer por um tempo
sem sentido e tudo começou
quando eu desembaralhava a fala,
sem mais convicção.
Estou assim...
tão só, a mirar o céu,
o infinito,
desligada de mim
e da vida... vegetante.
Desligada da minha própria lucidez;
Jubilada de acarinhar o seu ser,
como das minhas mãos
a esquentar as suas...
Enfim, estou aqui somente
porque não me sinto,
mas ainda estou viva,
só que não sei se sei.
Estou assim...
desabastecida da sua presença
que consome o tempo mínimo
do amor que não sei o quanto
ainda me resta,
ausente do chão,
vivendo no mormaço
da minha própria existência,
flutuando sem graça,
vazia de ilusão.
Estou assim...
tentando propor ao pensamento,
um tempo de menos obscuridade
e menor sofrimento,
mas este me diz,
que é assim mesmo,
que ainda estou em fase
de esquecimento...
que sou só mais um passageiro
esquecido por todos,
esquecido de si
e do mundo inteiro.