PAPO DE PELICANO

Porque pesa o que não tem forma

a mão recolhe o gesto.

Porque não compreende guarda, e esconde.

Dentro do calabouço o pavor encolhe sem tamanho

tanto mais se agiganta o negrume.

Na pétala mais branca pousa o inseto noturno.

Se cobre o rosto, descobre os pés.

O tecido da vontade não tem potência,

a voz não alcança sabedoria.

O medo das pequenas coisas

vasculha o repertório da coragem.

O que excede não é lucro,

a sobra alimenta monstros.

A razão alavanca os sonhos na contramão.

É a sombra da dúvida que move

o rascunho do que somos.

Ao vento, moinhos e dragões se perdem no tempo.

O quarto iluminado, a sala ampla.

Para mais um dia o Sol parado vê a Terra girar.

O mundo é tão pequeno.

A memória algoz adormecida regurgita,

maltrata seus filhos enquanto os alimenta

como se fosse mãe-pelicano.

O mundo é tão pequeno,

é do tamanho da maior mentira já contada.

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Baltazar Gonçalves

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 28/05/2018
Código do texto: T6349038
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