PAPO DE PELICANO
Porque pesa o que não tem forma
a mão recolhe o gesto.
Porque não compreende guarda, e esconde.
Dentro do calabouço o pavor encolhe sem tamanho
tanto mais se agiganta o negrume.
Na pétala mais branca pousa o inseto noturno.
Se cobre o rosto, descobre os pés.
O tecido da vontade não tem potência,
a voz não alcança sabedoria.
O medo das pequenas coisas
vasculha o repertório da coragem.
O que excede não é lucro,
a sobra alimenta monstros.
A razão alavanca os sonhos na contramão.
É a sombra da dúvida que move
o rascunho do que somos.
Ao vento, moinhos e dragões se perdem no tempo.
O quarto iluminado, a sala ampla.
Para mais um dia o Sol parado vê a Terra girar.
O mundo é tão pequeno.
A memória algoz adormecida regurgita,
maltrata seus filhos enquanto os alimenta
como se fosse mãe-pelicano.
O mundo é tão pequeno,
é do tamanho da maior mentira já contada.
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Baltazar Gonçalves