Trilhos
Pé na estrada, andar sobre a vida, sobre a emoção;
Desviar gritos medonhos em nossos pesadelos;
Ver o crepúsculo no chão
Ensopado por bêbados faceiros;
Alegrar olhos-defuntos pelas ruas
Ou jogar excrementos em suas almas baratas!
Sentir abertamente vidas cruas...
Que no final da odisseia são mortas por fadas.
Nos levam com suas "latas velhas" ao centro
Das erupções que golpeiam a cidade,
Com babas de desejo que parecem um lamento
Não achando nas reminiscências fraternidade!
Com o bolso furado ele caminha
Num ziguezague mortalmente vívido;
Se rasteja em uma estrada, ele nada tinha,
A não ser um surpreendente desejo e um olhar tímido.
Escute! Podes ouvir?
Um nômade fora-da-lei com uma voz cheia de intenções,
Com um intenso e aventureiro sorrir,
Moldando o fogo e suas afeições.
Toque nesta eclosão que no sublime se enfeita;
Um inserto volumoso de molduras lúbricas
Onde Vênus (a divina!) abre as pernas e se deita.
Prazeres místicos e bocetas cítricas!
Avassalador é a voluptuosidade
Oriunda de um círculo fascinante e decadente,
Visto de uma jovem idade
Que é também, sim, grotesco e não latente.
Brasileiras, americanas, italianas, francesas,
Que venham aqui reinar
As noites rueiras; por aqui são princesas!
Com suas belezas, nossas mentes irão dominar.
Desventuras infantis descem pelas ladeiras
Do oeste com vagabundos bocejando;
O trem leva algumas besteiras
Que se percebe na vozes gritando.
Na cortina acinzentada pela fumaça
Se pode descansar dobrando os corpos
E se pode ter uma selvagem audácia;
Perscrutando paraísos tortos.
Nas escadarias incandescentes se proliferam
Frenesis longínquos súbitos
Que na aridez das almas se alternam
E destroem todos os súditos.
O Xamã está no asfalto nobre;
Abatido, amarelo, sem forças para o sarcasmo.
Deduzimos que é um demônio pobre
Quando o sol alucinado quebra o marasmo!
Enquanto beijava os becos chapados
De uma crença que não se pode crer,
Os prédios de sonhos perdidos eram achados
De uma maneira que não se pode ver.
Demasiadamente desabrocham efeitos confusos
Que caem em cima do paladar
Que não tem escolta e que se escurece em convulsos;
Talvez um dia irão lhe chatear.
Seu gozo irá flutuar no azul;
Um pouco sujo, ferido, atormentado.
Deixe o pranto escorrer lá pelo sul
Até o medo ser esquentado.
Paraísos artificiais na cama se despem!
A bocarra realça o desejo entre as pernas!
Por enquanto ingênua, ela desfere
Até os olhhos de volúpias eternas.
Nos emaranhados cabelos ele passa
A entretecer-se com a linda!
Ele bebe com a sua taça
Acariciando a erótica ninfa.
Os anjos armados são espiões;
São renitentes, são seduzidos e seduzem;
Rebeldes que brincam com visões;
Então, que as línguas se cruzem!
Um grave sabor se sente
Na poeira que enfatiza o futuro.
Colocamos uma lente
Onde podemos ver um passado duro.
Flutuamos até o belo riacho de desesperanças;
Heróis lá, se banham!
Emergem com seus cachimbos de lembranças;
Salvam, enlouquecem, reclamam...
Saem dos céus e dos infernos,
Dançam com a vida e a morte;
Seus amigos são mendigos e não usam ternos;
No coração acham um corte.
Universos progridem em bonanças!
Os quartos se enfeitam de vertigens;
Dantescos sentimentos em andanças
Devorando os últimos prazeres virgens.
Todos eles amam a serpente
Que enrola e engole vulcões;
Tiram a camuflagem funesta e entram na corrente
Descansando e tirando paixões em frações.
Astros errantes se governam.
A trepidante luz é fugaz.
Injeções no cérebro se internam!
O caminho que passam é cheio de gás.
De carona a carona eles enriquecem,
Consomem virtudes em belos lixos,
Pregam sonhos, como se amor, nunca fizessem.
E terminam com vermes, entre os trilhos.