O ÚLTIMO PECADO DE ZARATUSTRA
É mesmo verdade
O que dizes agora?
Será que já é tarde
Chegou a nossa hora?
Sim, mas não chegou
Sempre esteve aqui
Você que não notou
Mas eu bem percebi
Que o tempo não passou
Ainda está acontecendo
Vejo, que você também não notou
O futuro aqui se sucedendo
Agora, junto ao passado
Vai circulando no presente
Se determinando cada fado
Indefinida, e constantemente
Caótica é a visão da mente!
E qual ótica não mente?
Tristeza é viver na incerteza
Pobreza é negar a natureza
Hááá... desgraçado! infeliz!
Não sabes? Não podes perceber?
Que todo mestre já foi aprendiz
Que toda palavra tem poder?
E aquela água que corre da fonte
Tão pura, até cruzar a ponte...
Ah, como a luz fica escura!
Como a imagem se desfigura!
Ah, que frescura! preguiça pura!
Medo é a razão de tal brandura
Levante, corpo que jaz, já é tempo!
Mas para que seria tempo?
Ora, por que motivo teria o homem
Abstraído, criado a ilusão do tempo?
Virtudes são para os que dormem
Mas, tu, conheces bem tal tormento
Conheces o poder do julgamento
Háá... já viste mil vezes o abismo
Do inevitável derradeiro momento
Ainda podes demonstrar cinismo?
Se sabes, por que negas o que vês?
Não se engane sem se acreditar!
E isso que vês no espelho do azar
Foi ainda que sem ver, tu que fez
Miserável, a riqueza é uma ilusão!
Imponderável é a loucura da razão!
Insuportável é a voz da consciência!
Provável é a incerteza da ciência!
No que se pode hoje salvar a fé?
Eu só acredito na beleza da mulher
Poderia, quem sabe, eu acreditar
Em fantasmas e espíritos do ar?
Miséria é venerar estátuas
Que já foram derrubadas
Miséria é venerar pessoas fátuas
E verdades duvidosas maculadas
Maldita miséria dos miseráveis!
Conheço bem o teu nome
É vaidade! Mendigos insuportáveis!
Sempre com insaciável fome
Maldita loucura dos mais sensatos!
Conheço bem também teu nome
É orgulho! Vocês são tão pacatos!
Cegos e limitados como o homem
Maldita maldição dos malditos!
Conheço melhor que tudo teu nome
É prazer! Galgando eternidade, que fome!
É o lado obscuro de todo erudito
Háá... maldito riso estridente!
Tu me divides em mil pedaços!
Como é afiado o teu dente!
Como tu sufoca os meus passos!
É verdade mesmo o que dizes
Que não há verdades para além de si?
Que somos apenas atores e atrizes
E a existência é um efêmero frenesi?
Sim, como poderia eu duvidar de ti?
Tu, ó desgraçado, que de tua desgraça se ri!
Pois, os Deuses não morreram ainda
E o homem ainda espera a outra vinda
Tolos, como podem esperar pelo que tem?
Como podem se enganar, se não convém?
Mil vezes tolos, mil vezes humanos!
Iludidos que ainda fazem planos
Se dizem sábios, sabendo seus enganos
Escondendo seus Eus e superfície
Em frágeis e transparentes panos
Poderia eu cometer tal idiotice?
Que tolice, eu, que Veni, Vidi, Vici
Não, como posso eu viver ainda?
Compaixão, que considerava uma sandice
É agora meu único caminho e saída