Poema em vermelho
Ah! Sonho quando as horas jazem mortas...
E por todo o jardim as flores ledas
Sonham, numa mudez como a das portas
E às vezes dançam como as labaredas...
Cada rosa flamífera que vejo
Carrega em si o brilho da luxúria;
Flamas do Vício, bocas do Desejo,
Clamando sempre: Fúria! Fúria! Fúria!
Sangue dos oprimidos no rebate;
Truculências, revides e pedradas;
O mundo é um grande campo de combate
Ardendo à luz dos gumes das espadas!
Há sangue nas bromélias, nas distâncias...
Soa em urgências lúgubres gritando,
As gargantas febris das ambulâncias
Que pelas minhas veias vão passando...
Ah! Dolências dos cravos e das rosas!
Graves, fragrantes, agressivos, bravos,
Que desfilais ante meus olhos; glosas
De sangue e dor nas costas dos escravos...
Réquiens do Amor, delíquios do perfume,
Ressurgidos nas vozes das violetas.
Tudo a fulgir na cor que em si resume
A morte de duzentas Julietas!
E a flor da passiflora dorme à luz
Roxa das santas que dormitam sós;
Sonha diante do sangue de Jesus
Que Ele verteu no mundo - em vão - por nós!