Um Poema para Ti

(03 de Julho)

Hoje tua voz eu ouvi,

agora mesmo a ouvi.

Professor de homens,

professor de vida,

exemplo de luta,

o corpo sempre em labuta,

mente sempre à procura,

encontrando trilhas erradas,

tortas e sinuosas estradas

e portos duvidosos;

mas sempre de pé.

Dos heróis tens a fé

e os adjetivos virtuosos,

acreditando sempre ter

uma oportunidade a mais;

e a cada tentativa

a mesma disposição da primeira.

Um homem menino, empolgante,

entusiasta que entusiasma,

teu exemplo é gigante.

Quando o dia amarela

e o meu corpo fraqueja,

eu lembro-me de ti,

que há horas de pé já estás.

Corpo brigado, cansado,

com energia de moço,

saltando os obstáculos,

levantando a cada tropeço,

alguns grandes,

outros pequenos,

sempre em busca,

em busca de nova chance,

de outro recomeço.

¿Quantos carros tu capotas?

¿Quantas balas tu carregas?

¿Quantos ossos tu quebras?

¿Quantas estrelas tu crias?

¿Quantos guerreiros tu velas?

Não fraquejes jamais.

Por favor, não desistas.

Por favor, não desistas.

Continua a tua história.

Dá-te vida longa é o que te peço.

E me veio esta vontade de escrever,

escrever para ti sobre o meu desejo,

sobre o meu desejo de que vivas,

de que vivas muito mais.

01/01/2001

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Essa poesia eu fiz para o meu pai em janeiro de 2001, quando ele passava por sérios problemas de saúde agravados pela recente morte do meu irmão.

Hoje com a sua morte, no último dia 03 de maio, quando o seu coração falhara, essa poesia ganha novo sentido, mas o desejo de que ele viva mais permanece.

Meu pai veio da Itália alguns anos após a Segunda Guerra, ele contava que o seu país ficara totalmente arrasado, não restara nada, havia muita dificuldade, doenças e tristeza. Seu pai, meu avô, morrera em combate. Com o fim da guerra eles tentaram retomar a vida, meu pai teve de ir à escola descalço pisando no gelo, pois não havia o que calçar, os nazistas, durante a guerra, ocuparam a Itália e se apropriaram de tudo, alimentos, calçados, bens, dinheiro. Com tanta desolação, minha avó e seus filhos tomaram a decisão de mudar para o Brasil. Ficar ou partir? Eu tento imaginar o quanto aquela mãe teve de ser corajosa naquela decisão.

Meu pai cativava a todos quando falava da sua breve infância na Itália, da fartura de frutas e belezas que havia antes da guerra. Ele lembrava de tudo com muito detalhe. Durante a guerra, a minha avó os escondia nos momentos em que havia bombardeios; ele contava que durante dias o ar ficava pesado, difícil de respirar e dava uma irritação na pele, e que eles se coçavam até se ferirem.

Aqui no Brasil, ele também acumulou muitas e boas histórias. Um homem inquieto, quebrou vários ossos sempre trabalhando, foi vítima de um tiro de arma de fogo - os médicos acharam melhor não retirar o projétil cravado na altura do ombro direito, ele o carregou até o fim -, criou várias estrelas - suas filhas, seus netos, seus sobrinhos e sobrinhos netos. Quando trabalhava, ele saía de casa sempre de madrugada ainda faltando várias horas para o dia amarelar. Durante as madrugadas os perigos eram muitos, em duas fora atingido enquanto dirigia e teve os seus carros capotados, que sustos levávamos quando recebíamos as notícias.

Ele aniversariava no dia três de julho.

E ele amou, amou muito. A relação entre meu pai e minha mãe era e é muito forte. Minha mãe está conosco, e ela sabe que sempre estaremos com ela e para ela.

A vida é caprichosa ao tecer e entrelaçar histórias.

Fica uma saudade doce, uma admiração encantada e um orgulho grande de ser seu filho.

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Para essa poesia eu fiz um áudio vestido pela música "Canção Pra Você Viver Mais" do Pato Fu. Convido a todos os amigos e amigas a ouvirem-no, clicando no link abaixo. Desde já o meu muito obrigado.

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("quem tem amor na vida tem sorte" e "sonhos não envelhecem")