Corpos vagantes
Duas horas da manhã
Após um dia exausto
Repouso meu corpo no vasto estudo
Vencendo o cansaço
Se não fosse o compromisso com o futuro
Eu confesso que por um instante paralisaria tudo
De pensar no futuro
Sinto medo desse não chegar
Na verdade seguinte minha realidade tenho certo conformar
Afinal há sempre pouco tempo para no mundo a revolução então pregar
Confundirão meu ser
Com o enigma do fracasso
Porém travestida na vitoria
Penso no que concebe a questão:
Cumpriria a regalia de um Estado oponente a minha concepção?
Questão de dor na reflexão
Minha mente é tão confusão
Prefiro remeter meu pensar no vinho e pão
Catequizar esse meu coração
Que se danem
Eu sou rebelião
Violenta a emoção
Sons, vozes e agitação
Em meio ao próprio silencio
Dentro da escuridão
Muitos tendem a herdar
E o privilegio tende a ofuscar
Clarear as noites pretas
E nela ainda repousar
Para alguns essa noite é mais uma
Diferente de todas as outras
Onde se come o inovador
Esquecido no tempo
Mas foi meu antepassado que desbravou
Onde se firma o novo
Contundente à mente do telespectador
Poucos sentirão essa dor
O acervo do dilema
Aquele velho esquema
Apropriação cultural da própria tão sangrenta
Transformada num padrão claro e sensato
Destilando decência
Descartando historias raras
Mutilando a resistência
E ainda vendida por milhões
Servidas e destinadas exclusivamente a burgueses ditos campeões
Incrementando um pouco mais a violência
Arrancando a tal complacência
Prossigo
Tentaram limitar meu pensamento
Mas ele é solto feito vento
Por peles faz arrepiar
Por outras é massagem e terapia
Covardia imaginar que quando eu soprar
Tu matarás um animal e então se vestirá
Lembrei do meu irmão que o frio fez matar
Tão animal quanto aquele da tua vestimenta
Tu vestes sangue de gente que morre por morte violenta
Mas esse foi só um dos motivos, tudo bem?
Cê não sabe o quanto é difícil
Sentar para ler e pensar justo no mercê
De um sistema que não deseja o meu escrever
Vou continuar minha historia
Vou permanecer aqui também
Onde o único compromisso
É com o futuro incerto
Cuspindo o papo reto na cara dessa gente que não me quer por perto
Ouvi alguém que grita lá de baixo:
"Vocês não sabem nada da minha ancestralidade
Eu te odeio terra"
Reflexos de uma covardia
Uma historia marcada por tanta gente feita de mercadoria
Almas vagantes pela noite que transcendem a minha empatia
Aqui permaneço a estudar
Eu não tendo a me moldar
Convém o Estado me rotular
Mas com mãos sangrando
Olhos lacrimejando
Continuarei como eles dizem: me exaltando
A minha mente é um inquietar
Vagante dos mortos
Da madrugada severa que silenciada grita
Poucos estão a escutar
Não tenho medo
Até emana dos meus poros
Grita mais alto a força do que eu não sei lidar
Tão pouco saberia expressar
Roane Muniz