IDEALISMO
Queria ser Cora Coralina
Ou aquela doce menina
Que simplesmente escrevia
Sem fazer apologia
À política ou à religião
Assuntos que geram discussão
E divergências nas mentes
De fanáticos e dementes.
Queria ser neutra nas poesias
Esvaziar-me de ideologias
Não fazer demagogia
Esquecer da pedagogia
Do discurso da servidão voluntária
Das guerras civis e partidárias
Da fome, da injustiça e da opressão
Da miséria que leva ao caos a nação.
Queria fingir indiferença
Falar do amor, esquecer a doença
Aceitar a morfina
Esquecer a fosfoetanolamina
Que foi negligenciada
Antes mesmo de ser testada
E tantas outras curas
Engavetadas e seguras.
Eu me pergunto onde se perdeu
Aquela menina, não sou eu
Os versos que pousavam com serenidade
Agora caem com tempestade
Devastando a brancura do papel
Cuspidas da alma como fel
Deixando um amargo na boca
E um vazio, uma insaciedade louca.