Eu em versos.
Nos vales do inacabável anseio
Oro em súplica, oro em miséria
Ao receio da dor, ao seu fim
E tudo o que a acompanha.
Que os céus me perdoem
Por ser um imaculado escravo
Do superficial gozo da juventude
Servindo ao desejo irracional
Chicoteado pelas desilusões
E mesmo assim, apontar isso como amor.
Seria justo merecer o paraíso?
Dou passos mancos e lentos
Mas quem poderá me julgar?
Quem poderá me dizer o que é certo
E o que é disfarce do diabo?
Não hesito em gritar em silêncio
Tudo o que sinto
Insisto em pôr vida em todas as coisas
Que morreram dentro de mim.
É, sou assim
Perfeitamente imperfeito.
Jogo as palavras que vêm à mente
Pois assim posso dizer:
"Este sou seu, sem máscaras
Distorções e idealizações".
Não reescrevo os versos que agora escrevo
Pois esta é minha revelação
Com as brilhantes lágrimas
Da tão cobiçada romantização.
Daniel não possui um nome
Daniel não possui uma identidade.
Eis o dia de outono
Em que jogou-se aos braços do sol
Para que arda e queime
Tudo aquilo que o faz lamentar.
Eis o dia de inverno
Em que deitou-se no inferno glacial
Para congelar o que verdadeiramente
E puramente sente.
Em silêncio
Contemplo o mundo solitário
O céu sem complicações, nuvens ou poluição
Límpido como a água do mar
A qual me afogo, me liberto, me conheço
Encarando o vazio azul
Banhado pela cristalina luz do sol
Iluminando-me, a natureza me cura
Me livra das amarras
Dá-me as asas, dá-me a liberdade.
No berço das memórias
Deito-me e adormeço
Fujo para bem longe da realidade
Para bem longe dos olhares da lucidez.
Vejo nas profundezas do que é incerto
Vejo a figura que se afasta de mim
Corro para chegar ao desconhecido
A velocidade em sintonia com o vento
O alcanço, observo os seus olhos perdidos
E o sorriso que esboçou em seu rosto, era eu.
Novamente, me reencontro na mais peculiar epifania.
Eu me coloco entre meus braços
E permaneço assim pelo resto do devaneio.
Este sou eu em versos.