Adeus mudo
Você não me deu chance,
eu não insisti,
achei por bem pensar
que era para ser assim e foi. Morreu. Morte súbita.
Um infarto fulminante: três ou quatro palavras grosseiras, silêncio sepulcral,
nenhum mais gesto de afeto, costas e um adeus mudo.
Percebi lágrimas,
mas não quis dizer.
Existia lágrimas em mim,
mas o orgulho era maior.
Engoli o choro tão bruscamente que fiquei com soluço.
Aguentei firme toda punhalada do momento:
adeus mudo. se foi. morte. bom descanso.
Você não teve preocupação
de medir a dor da ofensa
nem somou as quantidades
de coisas vividas para encontrar o produto da razão,
preferiu a ação emotiva e a arma bateu Catolé.
Está sofrendo? Agora aguente.
Não adianta, o tempo não cura, não é analgésico,
muito menos antiinflamatório. Ele é simplesmente a passagem para a recomposição.
Dei tempo ao tempo
e ele fez florir em meu jardim um luto colorido.
Agora já sei sorrir sob a ausência da luz.
Esqueci de alguns motivos, encontrei outros para passar batom
sem precisar de espelho.
Não há explicação, sem chance. Não adianta desenterrar os mortos,
os mortos estão mortos e isso é tudo.
Infanto fulminante.
Nada mais além daquilo que ficou no atestado fúnebre. Adeus mudo. Costas.
Lágrimas engolidas. Soluço.
Marcus Vinicius