ODE AO MUSGO

o musgo é meu companheiro

calados concordamos

que lado a lado vai o mal tempo

dançando colado com a bonança

o musgo meu companheiro

é paciente

seco espera pela chuva

para verdejar abundante

meu companheiro musgo

me inspira

me ensina

que devo ir devagar e sempre

se não espero aprovação

de quem passa

e pisa em mim

por descaso

devo ao aspecto rude do musgo

saber que a pressa não leva

o apressado a lugar nenhum

o musgo parece feio

no tempo da escuta

tem aspecto áspero

o musgo pode ser

tanto um tapete para a áspide

como o macio travesseiro

na manjedoura esquecida

pisado e oprimido e afligido

moído por transgressões

o musgo não abre sua boca

mesmo ferido na cabeça

mantem bonito o rosto desfigurado

o musgo firme no seu propósito

de viver apesar de tudo

aguenta muito

suporta a pesada pata do elefante

o insustentável pouso da borboleta

e os dentes do asno que o confunde

com a grama verde depois da chuva

o musgo e eu somos companheiros

ele me inspira resiliente

cobre a pedra igualmente muda

cobre a casca dura da árvore

e estende seu domínio a toda parte

o musgo me conforta e me silencia

‘estou na Terra desde priscas eras’

e é quando ele me diz que gosta

da vida como ela é

que minha lágrima inunda

o abismo por onde tudo passa

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Baltazar Gonçalves

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 06/05/2018
Código do texto: T6328702
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