ODE AO MUSGO
o musgo é meu companheiro
calados concordamos
que lado a lado vai o mal tempo
dançando colado com a bonança
o musgo meu companheiro
é paciente
seco espera pela chuva
para verdejar abundante
meu companheiro musgo
me inspira
me ensina
que devo ir devagar e sempre
se não espero aprovação
de quem passa
e pisa em mim
por descaso
devo ao aspecto rude do musgo
saber que a pressa não leva
o apressado a lugar nenhum
o musgo parece feio
no tempo da escuta
tem aspecto áspero
o musgo pode ser
tanto um tapete para a áspide
como o macio travesseiro
na manjedoura esquecida
pisado e oprimido e afligido
moído por transgressões
o musgo não abre sua boca
mesmo ferido na cabeça
mantem bonito o rosto desfigurado
o musgo firme no seu propósito
de viver apesar de tudo
aguenta muito
suporta a pesada pata do elefante
o insustentável pouso da borboleta
e os dentes do asno que o confunde
com a grama verde depois da chuva
o musgo e eu somos companheiros
ele me inspira resiliente
cobre a pedra igualmente muda
cobre a casca dura da árvore
e estende seu domínio a toda parte
o musgo me conforta e me silencia
‘estou na Terra desde priscas eras’
e é quando ele me diz que gosta
da vida como ela é
que minha lágrima inunda
o abismo por onde tudo passa
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Baltazar Gonçalves