o poema

Doçura ou lamentação?

Dos anos que fervem,

Aquele é o que guardo,

Sustento no corpo seu

Retrato em moldura, pulso

A vida que nunca mais, pulso

O tempo perdido, a gozo aborrecido,

Sustento os estilhaços na memória

Uma vida incapaz de se dizer a si mesmo,

Jogos de opostos, alturas nas quedas, sofro

Como quem sofre de ambição, que sabe do

Céu e relincha em sua aureola, pulso que

Nem horas de silêncio, que nem tempo

De lua e de estrelas, dessas noites que

Nos abana com sua qualidade maravilhosas,

pulso como uma grávida que no parto grita.

Então, dentro do escuro, sou luz, sou vinho

Numa noite de diversão, amam-me e amo

Com verdade e sinceridade, tenho então

Na mão o poema ainda sangrando, sujo

De sua noite perdida, trago nele um pouco

De meus sonhos, suficiente em sua fortaleza,

Em sua montagem e estratégia, então deixo o poema

Em paz, sou ele noutro tempo dele, e ele é criação.