Com licença poética -Adélia Prado

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,

desses que tocam trombeta, anunciou:

vai carregar bandeira.

Cargo muito pesado pra mulher,

esta espécie ainda envergonhada.

Aceito os subterfúgios que me cabem,

sem precisar mentir.

Não tão feia que não possa casar,

acho o Rio de Janeiro uma beleza e

ora sim, ora não, creio em parto sem dor.

Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina.

Inauguro linhagens, fundo reinos

(dor não é amargura).

Minha tristeza não tem pedigree,

já a minha vontade de alegria,

sua raiz vai ao meu mil avô.

Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.

Mulher é desdobrável. Eu sou.

Balé

Vem de antes do sol

A luz que em tua pupila me desenha.

Aceito amar-me assim

Refletida no olhar com que me vês.

Ó ventura beijar-te,

espelho que premido não estilhaça

e mais brilha porque chora

e choro de amor radia.

Admirável Adélia Prado

Coisas de Regina

Adélia Prado
Enviado por xodózinha em 02/05/2018
Reeditado em 02/05/2018
Código do texto: T6325486
Classificação de conteúdo: seguro