Reza
Tentei rezar...
Tentei Rezar pra Jesus pra Alá
Para Cruz e pra Oxalá;
Acendi a vela
Junto com as velhas.
Pensei que,
Se pá, poderia beber com os Deuses em Valhalla.
Pois mamãe fez-se espelho de guerreira
E papai combatente da guerra verdadeira
Tentei
Trocar uma ideia com Chico Xavier
Pedir bênção ao Preto veio e ao seu Zé;
Fiz minha prece
Tomei meu passe
Não me apresse
Só tô de passagem;
Acreditei até nas fadas
Sininho não ressuscitou;
Do templo eu subi as escadas
Com Buda tomei um chá
Até o nirvana fui meditar
Depois na casa de Jeová
Fui ceia.
Reclamei de barriga cheia
Tive azia da ceia
E não satisfeita me embriaguei com os pecados;
Fumei cigarrinho do diabo
Fortaleci no cigarro, tá barato, o maço, o câncer, o trago, na esquina 50 centavos, na promessa mais um TRAGO
Trágico.
50 reais por pedido, 100 pela promessa
No meu bolso
Só moedas
Imagina com o que gastei;
Ofertei meu peito cheio de amor,
pra mim tudo, pra eles merrecas
Insuficiente
Chamaram-me de demente
Porque rezava pra muita gente;
Não! Perdão, pra muitos deuses.
Disseram que eu tinha escolha
A escolha era os deles sem os meus;
Rezar para apenas um
Não podia ficar sem nenhum
Preparei minha reza
Com um pouco mais de pressa;
Sem dobrar os joelhos, porque não tava muito afim.
Ergui as mãos pro céu, disse enfim:
“Oh Deus, deu ruim!
Mande o dilúvio de novo,
Troque uma ideia com Poseidon, Yemanjá e todos os outros deuses do mar.
Destrua e reconstrua teus filhos que eles chamam de teu povo
E que eles já estão cansados de pedir socorro,
Teu favorito se cansou de dizer amem o outro e parece que foi pouco,
E continuamos sem saber quem é o pai de Luke senhor,
E Deus, se somos tua imagem e semelhança, tu deve ser muito louco.
E nesse mundo que diz ser teu, Oh criador!
Que só vejo ódio, rancor e dor.
Peço-lhe para teu povo só um pouco mais de amor”.
Achei que tinha ido bem
Mas fui apedrejada;
Quase que na cruz fui pregada.
Mal lá fala disse que eu estava contaminada;
Mais cedo se foi cobrar a dívida e sem grana na mão, duas vezes no cartão, milagre em promoção, no fundo do alforje a salvação
Contribuição do mais novo ao ancião
Nomeação: ovelhas do senhor que trabalhavam com muito labor
Mas o lobo que as devorava vestia-se de pastor.
Pregando ódios
Exigindo perdão;
Segregação bíblia ao corão
Gritos de paz: "Para o inferno eles irão!”.
Amor ao cifrão, na rua:
“Paz o senhor irmão”
Nas costas a pedra na mão;
De pagão chamaram meu tesão
Pra você mulher da vida
Achando que me ofendia.
Não há redenção
Os mais criativos mandaram-me esquentar minha barriga no fogão
Julgando minha percepção
Mantando um ao outro por conta de religião.
E criticaram minha oração!?
Eu disse: NÃO!
Fiz rebelião
Verdade Joi, sou moça de hoje,
Não como antigamente
Que chamem de demente
Porque eu sou louca mesmo!
No mundo loucura a sanidade é ter nos olhos aguardente
No fígado ela faz-se presente
Mulher da vida: elogio, termo bonito
Sou piranha mesmo reconhecida
Sexo é vida, e que não me falte
Suprir desejos carnais
Nadar em águas desconhecidas
Já sai da margem
Então me deixa foder
E vai se foder
Eu sou eu, você é você.
Sou pagã;
Sou cristã;
Sou verdadeira;
Minto demais;
Sou maloqueira;
Não olho pra trás;
Sou santa;
De casa;
Não faço milagres.
“Pro” santo deixo um corte
Pros gnomos a garrafa pra que álcool não nos falte.
Digo ser amante, mas é o azar que sempre me fode.
Sou amiga de Jesus, só não faço parte do fã clube.
Não lhes julgo e peço que não me julgue;
Afinal, quem sou eu?
E eu sou nada, uma Zé ninguém.
Mas pra mamãe sou o mundo,
Pro papai só orgulho,
Para meu irmão inspiração eu trouxe,
E agora rezo apenas
Para que tuas crenças lhe abençoem.
Regiane Martins Nonato
Vulgo Abelha
01/05/18