RELEMBRANDO

Rua Boa Vista,
meus brinquedos de menino pobre,
meus sonhos de menino livre:
escola, cinema, gibis e bigus,
bolinhas de gude, pipas, figurinhas,
imagens da minha adolescência.

Roubava frutas de Enedina,
umas azedas, outras doces,
pareciam o destino.

O relógio da Praça Padre Cicero

para mim era estranho e incompreensível,
marcava as horas sem pensar nos meninos,
mas tinha alma.

Juazeiro do Norte- Ceará,
Rua Boa Vista,
eu tinha medo da chuva, vento e trovões,
medo do frágil telhado desabar,
neurose de menino pobre.
Adorava o cheiro das telhas molhadas
e os pingos sinfônicos das goteiras.
Viajava embalado na rede peguenta,
coisa de menino sonhador,
sonhava em ser tudo:
soldado, prefeito, professor, artista,
caminhoneiro, vaqueiro, padeiro,
menos poeta.

 

Autor Benedito Morais de Carvalho (Benê)
Livro Antipoético-Página 62
Editora Scortecci (2006)

Livro: Achados e perdidos-Antologia poética- Pág 38

Editora Scorecci (2022)