anuário para minhas dores

Anuário para minhas dores

Sentindo-me

Portador das encomendas

Respiro esse ar

Das flores olorizadas,

Esse som das larvas

Mastigando folhas,

Esse farfalhar

Feito ao vento…

Não sou eu

Que vivo esses momentos,

Esses instantes

É que dividem comigo

Seus valores,

A água a mourejar da pedra

A pedra a brilhar da água,

Borboletas

Passeando sobre flores

Emancipadas…

Não sou eu

Que vivo

O que o som delata,

Somos parceiros,

Sim, dessa efeméride,

Embora me ache

Senhor das intempéries

Apenas capto

Essa vida em redor de mim

A me mostrar

A independência

De seus atos,

Assisto

A nascimentos

E funerais da espécie

Que viceja à próxima

Primavera suas cores,

Enquanto assisto

Esse féretro acinzentado

De meus valores…

Absorto ao dado fato

De que apenas eu

Não voltarei renovado

Com as águas

Do próximo agosto.

sergio donadio
Enviado por sergio donadio em 29/04/2018
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