RUAS DO TEMPO

Consumi em notas o Bolero de Ravel

E o lamento de Cármen, cigana espanhola

Que em mim encarnou o seu papel

Agudo canto em cordas de viola.

Delas tirei a dor traiçoeira

Fui às ruas do tempo, esquecidas

Busquei na manhã domingueira

As flores das árvores perdidas.

Galhos vazios na rua e abandonados

As pétalas das calçadas, varridas

Na guia, junto à moça de olhos inchados

Lágrimas negras da maquiagem escorrida.

À espera dos sonhos inventados

Na noite de esperança esmaecida

Ofereci-lhe a mão e meus cuidados

Disse-me não... continue sua vida.

Frente à praça de touros em Sevilha

Dobra-se ela em seu suplício

Em bolero a modulada maravilha

Lentamente faz valer o sacrifício.

Dalva Molina Mansano

Dalva Molina Mansano
Enviado por Dalva Molina Mansano em 28/04/2018
Reeditado em 21/03/2022
Código do texto: T6321821
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