RUAS DO TEMPO
Consumi em notas o Bolero de Ravel
E o lamento de Cármen, cigana espanhola
Que em mim encarnou o seu papel
Agudo canto em cordas de viola.
Delas tirei a dor traiçoeira
Fui às ruas do tempo, esquecidas
Busquei na manhã domingueira
As flores das árvores perdidas.
Galhos vazios na rua e abandonados
As pétalas das calçadas, varridas
Na guia, junto à moça de olhos inchados
Lágrimas negras da maquiagem escorrida.
À espera dos sonhos inventados
Na noite de esperança esmaecida
Ofereci-lhe a mão e meus cuidados
Disse-me não... continue sua vida.
Frente à praça de touros em Sevilha
Dobra-se ela em seu suplício
Em bolero a modulada maravilha
Lentamente faz valer o sacrifício.
Dalva Molina Mansano