A Sujidade

Eu vejo a mulher que finge limpar.

Jogua água suja noutra sujeira

e puxa ambas sujeiras para o ralo.

Sou eu e minha vida.

Já foi minha aquela vassoura,

mas eu pensava que a sujeira não.

Agora, Carlos, sei que ambas só são

apêndices desta suja mão.

Das latrinas da infância nunca saí.

Doutra vida só ouvi.

Pouco ouvi, aliás. Sempre me distraí.

Amontou câncer, enfisema e algumas outras.

Corpo que beira o surrealismo de Dalí

e que reluta ao ouvir o ralo dizer: vem aqui . . .