Fenômeno natural.

Rio, 27. 04.2018.

Fenômeno natural.

Ela tem um tornado nos quadris,

Uma tempestade de ardis,

Mas tem dias mais sutis em que

Ela se faz mansa feito água de riacho.

Tem lábio sabor de uva no cacho,

E eu percebo que me encaixo bem

Em suas intempéries e calmarias.

Tem dia que seu gênio é ventania,

Ela sopra lufadas de alegria,

E a vida até parece uma folia sem

Limites ou prazo pra acabar.

Em seguida enverga uns olhos de nevasca,

Fica tão fria e sarcástica,

Me fita com cara de carrasca e fico

Me sentindo um esquimó.

Ela impiedosa e sem dó, não arreda

o pé, diz que não me quer,

Vira uma gaeda (bem gelada)

De impropérios e queixumes,

Eu logo percebo que ela entrou

Numa era gracial de cieúmes.

Ai eu tento contornar, me vestir

De sol para ensolarar e derreter

O seu ânimo icebergue.

Uma hora ela cede, fica derretida,

E quando vejo a moça pega fogo.

Me da um beijo feito um vulcão

Que entra em repetina erupção.

Sobe um calorão, ela que era

"Era do gelo" agora é lava

A se contrair de desejo incandecente,

Nas carícias que faço no seu

Corpo estupidamente ardente.

Mas você acha que isso tudo

me incomoda? Que nada, sinceramente,

acho coisa até muito normal.

A gente vai aprendendo que toda mulher

É feita de fenômeno natural.

Clayton Marcio.