SENHOR PAI
“Pai afasta de mim esse cálice, afasta de mim esse cálice de vinho tinto de sangue”
Chico Buarque.
Pai
Afasta de mim
A dor da opressão
A ira dos generais
O cassetete da ditadura
Afasta de mim
A fome e a sede da amargura
A falta da esperança
Da desigualdade social
Pai
Onde houver o medo das sombras
A ignorância das trevas
Que eu possa ser um ponto de luz
A levar a esperança alada
Que eu tenha Pai
A vontade da justiça social
E nunca o desejo de vingança
Que eu me encante com as estrelas
Pai
Afasta de mim
A maledicência da crueldade
A ganância dos pobres de espírito
Dos burgueses hipócritas
Afasta de mim
O orgulho pequenez
E a vaidade do pequeno ego
Pai
Afasta de mim
O temor da bala perdida
Dos desconhecidos ao lado
Dos vícios licítos também e
O corpo sujo de sangue
Afasta de mim
O pau-de-arara dos cárceres
E o cálice de veneno
Amargo e sujo de sangue
Pai
Afasta de mim
A Sedução dos podres poderes
L’argent sujo da corrupção
Ainda que a democracia seja imperfeita
Ditadura Nunca Mais!
Quero viver o sonho libertador
Uma democracia justa e social
Viver numa sociedade
Mais compreensiva, fraterna e solidária
"Que meus inimigos
Tenham olhos mas não me vejam
Tenham braços mas não me agarrem
Tenham pernas mas não me alcancem"
Pai
Fazei de mim um instrumento
De vossa paz, porque paz sem voz
Não é paz é medo
Senhor Pai!
Se assim não for
Tenha piedade de todos nós.