P R E C I O S I D A D E S (111)

O SINO RACHADO

Mas quão é doce e amargo, em noites invernosas,

ao pé do fogo ardente, ouvir recordações,

que de muito distante acorrem vagarosas,

quando canta na bruma a voz dos carrilhões.

Forte sino feliz, de sonora garganta,

que, apesar da velhice, alerta e bem-disposto,

o seu grito de fé, com firmeza levanta,

como um velho soldado, atento no seu posto !

Partida está minha alma e, quando em seu tormento

deseja, em noite fria, espalhar seu lamento,

acontece, por vez, que seu clamor sentido

Mais parece o estertor de alguém que está ferido,

entre mortos deixado e em sangue se esvaindo,

agonizando, inerte, em sofrimento infindo.