Metamorfose
Certo dia, cansada de vagar entre escombros e destroços – sonhos desfeitos, expectativas mortas – resolveu aventurar-se na construção de magnífico jardim.
Varreu as tristezas que a esmagavam, removeu lembranças que a atormentavam. Arado estava o solo, fitou o céu, alimentou-se dos raios do sol, ensaiou passos ao observar o balé das borboletas e semeou.
Regou, cuidou, trabalhou com ardor, tempos mais tarde seu mundo estava refeito, nele se ouvia a sinfonia do amor, um enorme jardim se levantou.
Ela, tomada por assombroso espanto, diante do Arquiteto Construtor se ajoelhou, agradeceu sinceramente pela benção concedida de poder reconhecer-se como um ser cocriador.
Andou maravilhada pelas sinuosas estradas do seu mundo interior, deliciou-se com o aroma das flores, bailou com o delicado espetáculo das borboletas, apreciou o seu sol reavivador, mas passados alguns dias, o tédio a visitou!
Estava intrigada, impaciente, algo desconcertante não lhe permitia apreciar o fruto do seu labor. Seu jardim era grande demais, intenso demais, estava sufocada com aquele precioso odor. Precisava dividir a criação resultante do seu então revelado valor.
Os ventos sopraram um segredo em sua mente: encontre a porta! Siga sem temor.
E ela, valente com era, pelo misterioso jardim se embrenhou, precisou remover um pântano que ainda restava e a porta encontrou, livrou-se do orgulho e a porta derrubou.
Os ventos sopraram fortemente. Um profundo vendaval naquele mundo se instalou, pela porta escancarada as flores foram arremessadas para encantar outros jardins e novas essências compor.
Chorava solitária, tornou-se alma livre, solidária.
Entregava-se a doce emoção de um mundo sem ilusão: era agora, Libertária!