Queria criar algo belo
Queria criar algo belo
igual à avezinha amarela
maior que edifícios e ferro
cantando obra-prima à capela.
Seria um som rápido e uno,
simplíssimo e puro, sem regra,
canção que durasse um segundo
mas fosse a lembrança eviterna.
Comum bem-te-vi já nascido
poeta sem quem o ultrapasse
se põe a cantar logo ao ninho
um pio doce e amargo, sem classe,
porém que conquista ao sensível
e ao bruto, com sinceridade.
Ao homem, é feito impossível,
de nossa invulgar vanidade.
Por essa razão, sempre ao vê-lo
voar sobre mim seu poema
o vão de meus versos percebo
e sofro o seguinte dilema:
vivemos no sonho de um dia
versar o mais crítico tema
negando que à vida invernia a
simpleza da ave é perfeita.
Jamais criarei o que quero,
mas tudo o que quero já vi
no canto e no voo tão belo
daquele comum bem-te-vi.
16-18/4/2018