em profundezas de águ'ardente
procurando uma correnteza que me deixasse em terra firme, desaguei em mares desconhecidos
em águas frias demais pra quem nasceu na Bahia
cresci nadando em mar aberto e já não preciso de ajuda, embora goste de descansar num bom bote de vez em quando
pernas cansadas não nos levam ao fundo
e a superfície já não traz contentamento
[mergulho]
os quases; o meio; o morno
[mais fundo]
o fim do início
era fim de tarde
era pouca febre
era agridoce
procurava profundidade enquanto boiava em águas passadas
(te) vivendo enquanto dava até molhar a boca seca
(re)vivendo as quase-mortes por afogamento em superfície
água-ardente eu já não tragava com tanto gosto
por alguns segundos
fui deslocada pela voz de Djavan
entre baía de todos os santos e rios de todos os meses
rotas e cores e acordes
oceanei profundamente
(mas só por alguns segundos)
de meio em meio fui compondo meus inteiros
de pouco em pouco, minhas sobras
e de tantos quases,
meus vazios
gozar da efemeridade
é saber que também há fundo em superfície.
15/04/18
(Milagres - bahia)