DIÁLOGO
O bar quase em silêncio, o que te ensinaram um dia para seres feliz,
deixa a tua voz comover-me, aquela música que meditámos ao ouvir
o mar ou um poema de Rilke, o quarto do nosso amor no laço dos corpos.
As janelas fecham-se sobre a progressiva penumbra exterior.
Descreve, ainda. Quase em silêncio as grandes avenidas, uma breve referência
a uma tela de Hopper. Invento o diálogo.
Tenho a certeza da realidade. Quando os lábios deixam marcas nessa linha dos teus. Um ombro a ondular sob a embriaguez. Lembras o jardim e as aves na areia.
Tudo o que dizíamos que pudesse adiar a morte. Viver no limite a serenidade
como se fôssemos um verso incandescente.
Agora. Alastra a neblina pelas espirais do vento. Espero-te.
Enquanto vou debelando a melancolia.