A rua
Sentado sobre o chão sujo e gélido,
Abraçado em minhas pernas esqueléticas
Busco algum ilusório conforto escondido em lugar nenhum
Parece que apenas existe a solidão e eu
Um casal pra lá de estranho, mas combinamos de fato
Imperfeitos e sem um pingo de felicidade
Um matrimônio amaldiçoado por algumas escolhas
Ouço uma voz que ecoa no silêncio da alma
Um murmúrio de vozes que me dizem o que fazer
Tingido de vazio, a mente rabiscada de transtorno
Sinto cada palavra como se fosse punhais
Cravejado na dor exagerada, a esmo de tudo
O sangue transparente desce como rio pela minha face
Levanto e finjo existir por segundos...
Esfrego os olhos remelentos
Olhos que estão na cor púrpura
Olhos derribados em um rosto caído
Às vezes
Consigo enxergar gente que mal olha pra mim
Os que olham, estampam ânsia sob os olhos
Só as crianças me fitam...
Andarilho, andejo por vielas enegrecidas
As luzes dos postes não brilham quando eu passo
De lado ao outro, vou e volto
Abandonado por uma razão, tóxico, e um tanto contagioso
Não vejo as manhãs como chances de uma nova vida
Tenho urdido meu óbito, isso eu sei
Largado na sarjeta social
Discriminado, doente, sofrendo
A rua me engole a cada dia...
E todo anoitecer, recomeça a mesma história...
Morador da rua, morador na solidão, morador do caos urbano...