PALAVRAS DESMONTADAS
PALAVRAS DESMONTADAS
poesia se faz no silêncio
consoante
no sussurro das vogais
nas dobras amarrotadas
dos lenços
entre um e outro
ai
na gota despencada
da chuva caindo umidade nos olhos
em cada asa batida
de um pássaro dessabido
nas sombras de uma nuvem qualquer
nas tardes desflolhando
ventos de outono
no cheiro coando café
a meio metro dos lábios
no ronco do carro que passa
mas que coisa mais sem graça!
diriam os amantes
e
se você
descesse as pálpebras sobre os olhos
e
se você
sentisse o som que vem surgindo
devagarinho
feito prelúdio de música
que vai num crescendo
escala por escala
e que vai diminuindo
diminuindo
até se dissolver no fim da rua?
poesia se faz
no olhar
e no não olhar
na procura da Beleza
dentro da intimidade das coisas
na cumplicidade das insignificâncias
dentro da liberdade das incertezas
Mírian Cerqueira Leite