Alta Pressão

Não consigo escrever nada depois que o velho tentou me derrubar

Indicando-me a uma multidão de desvalidos e necessitados

Todos querendo alguma coisa.

Como se eu fosse a última instância de suas privações

A fonte que tudo soluciona e resolve

Um grande lago de água benta e pura

Não, não e não.

O sacro ofício dos meus dias injeta-me sangue bom

Um oceano vermelho alimentando um grande coração

Capacitado pela vida, mas pouco valorizado.

Esse sangue faz pressão para que eu siga em frente

Conduzindo-me a salvo como a bóia que protege do mergulho

Acendendo lanternas indicando a direção

Atirando mapas para que eu não fique perdido

Sinalizando com foguetes para que eu não perca o rumo

Informando pelo rádio para que eu não me sinta sozinho

Enviando bússola para que eu saiba o norte

E a pressão continua sempre, sempre e sempre.

Assim vou seguindo em frente desviando dos icebergs

Evitando colidir com punhados de terra em alto mar

Que podem trazer a sensação de uma ilha segura

Ao passo que podem não passar de imensos pântanos

Onde uma vez pisado jamais se retorna para seguir viagem

A terra é firme quando sentimos o calor de quem nela habita

Quando falamos e somos ouvidos e a ação é compreendida

É firme onde há reciprocidade e solidariedade

E a palavra é a matéria prima de todas as obras.

Assim vou navegando pelas ruas a bordo de meus grandes sapatos

Superando os perigos da correnteza

Atracando em margens literárias para ganhar fôlego.

Ricardo Mezavila
Enviado por Ricardo Mezavila em 30/08/2007
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