Um voo pássaro para a infinitude
Incertas horas, fui buscar meu eu
E só encontrei paredes amarelas
Livro com as páginas rabiscadas
E ainda um gosto amargo de café
Em certas horas fugi para o quarto
Estava imóvel, vazio e amorfo
Sem pensamentos, sentimentos
Tóxico mas ainda quase morto
Onde o espírito repousa seu olhar
Ali se cria por uns momentos a vida
Um pássaro voa dali com um susto
Também já me assustei neste mundo
A alma também se banha com terra
O barro da criação e o sopro de vida
Operária da construção do homem
Assopra sobre ele as suas graças
Este barro já imerso em espírito
Deseja plantar coisas nesta terra
Alimentos de sabores puros e frescos
Abundantes e repletos de amor e vida
O pássaro voltou apesar do susto
Trouxe barro e palha desta vez
Fez o homem em espírito e luz
E voltou para as infinitudes do ser
Deixou também seu ninho em mim
Olhei seu voo distante no horizonte
Tive medo da noite que se aproximava
Mas o pássaro ainda voava em sua plenitude em mim
Não tive mais medo e saboreei sem medo os frutos desta terra
Ela ainda produzia vida e ainda trazia em si muitas sementes.