CUTILADA DA PAIXÃO

CUTILADA DA PAIXÃO

Sentado só, aqui no banco dessa praça...
De olho nesse jardim, olho e vejo... Vejo
as pétalas caídas e os beija-flores tristes
assim como eu, tristes por saber, que
não terás revoar de alegria nem beijo de
paixão. Aqui eu... Observo os passos e as
canelas com suas passadas, e os olhos
sobre as janelas, fechadas.
Estou só... Só e choro, e nem um olho será
capaz de ver a minha lagrima que cai... Cai
e escorrega pelo labirinto dos meus
sentimentos sem sentindo, vão ao rio e de
lá, vão se juntar ao mar.
As lembranças de ti me sufocam, vejo o sol
e ele me mostra o seu sonho, cortado pelo
pesadelo dos edifícios, e o sol sofre, em
desespero por ver os seus reflexos mutilados
pelas quinas dos prédios e muros que mais
se parecem com gumes de facas nordestinas,
tosando a sina de iluminar o seu mundo.
Ah sol... Eu sinto pelo seu sofrimento
e confesso o meu, pois, ao ser abandonado,
eu me sinto como se a minha felicidade
fosse cutilada e atirada os pedaços no poço
da solidão, e agora estou assim, meio sei lá,
como farrapos, entre ventos e sopapos, sob
o tempo, morrendo aos poucos...
Pelo escuro, broco d'essa loca paixão.

Antonio Montes
Amontesferr
Enviado por Amontesferr em 07/04/2018
Código do texto: T6302357
Classificação de conteúdo: seguro