NA TERRA COMO NO CÉU
Dentro da terra,
há terras de anjos estranhos,
tão quietos, que folhas pousam
entre seus cabelos de todas as cores.
São de todos os tamanhos e seriam belos
não fosse essa face única,
essa face esgarçada, feito nuvem ao vento.
Além de qualquer afoiteza,
têm um azul dolorido, de carne que se bateu,
um amarelo antigo, de milho que se perdeu
além de qualquer beleza.
São anjos estranhos de terras distantes
que nem vivem o viver dos viventes,
são anjos de todo tamanho.
São homens,
se homens, anjos pudessem ser.
São meninos,
é assim que os anjos têm sido.
E brincam entre flores de um jardim,
só por eles conhecido,
de amores-perfeitos seráficos,
vitórias-régias impossíveis,
lânguidas flores-de-cera
e líquidas ninféias,
todas feitas de nuvem.
A terra dos anjos estranhos
é terra presa, pisada.
Nela, pedras não rolam.
É seca a terra de tantas botas que pesam.
Cinzas cobrem a terra,
cinza é cor das botas.
Ainda assim, para os anjos,
são flâmeos
e velam de vermelho seus olhos
(o vermelho de uma infâmia).
Depois do vermelho quente,
nos ouvidos dos anjos,
para sempre,
os versos mais tristes de uma nênia.
(Há tanto vermelho cobrindo a terra!)