NOITE CHEIA

NOITE CHEIA

Em noite cheia...
A lua solta a prata o lobo
... E o eco loco no morro...

Enquanto a molecada com a
gangorra, saltam alegre as estrelas
a lua solta prata na fauna,
e na fogueira a ciranda...
Roda as vozes n'um cirandar.

Em noite cheia, os grilos clicam o tema
... O poeta... O poema,
que fez com todo amar...
Solta rima, verso, poesia
e toda aquela fantasia
causada pelo luar.

As mariposas revoam as luzes
com reflexos na pintura
em cada olhar, um piscar de cruzes
na paixão e nos lambuzes
os magnatas com seus arcabuzes
compram em fim, todas as curas
causando grande amargura.

Em noite cheia de peia...
Ladra o cão lá no cercado
com a corrente no gogo
e um ladrar todo enfadado
em um lobo latindo só.

O ladra, ladra na rua
em seus sibilos de aviso
os olhos fecham na tua
sem nunca ter nada com isso.

Em noite de lua cheia...
A coruja pia no toco
e o caboclo com sua teia
lê o cordel do sei Tinoco.

Pensamentos, lê o vento
trazendo chuva p'ro sertão
lê também o firmamento
que domina o coração.

Le as vozes de Maria
cantando lá na novena
o orvalhar dos belos dias
e o sabia com suas penas.

Lê o sereno da noite
com a lua e o pratear
tropel do cavalo em açoite
pelo pasto a galopar.

A canoa corta água
em noite de grande luar
canoeiro engole a magoa
porque não sabe nadar.

Em noite de lua cheia
tem enchente p'ra amor
tem mar maré tem telha,
gotejando n'aquela flor.

Tem o choro do menino
atirado no cesto do lixo
o crime d'aquele assassino
e a vozes do deixa disso.

Em noite cheia tem a peia
nas costa d'aquele inocente
tem a fome do abismo
e a condenação d'essa gente.

Tem passadas de pé a pé
nos pé de quem quer passar
tem o esquema que não quer
para os ingênuos entregar.

Em noite cheia, tem hino
tem amor ladrar e urro
tem golpes dos excluídos
em vozes pichada no muro.

Antonio Montes
Amontesferr
Enviado por Amontesferr em 04/04/2018
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