MUNDO SURDO

com a palavra costurada à boca

saíste pelo mundo em busca de quem a escutasse

pesada em significados, quase te arranca os lábios

a palavra recortada de pergaminhos e alfarrábios

que tomaste como unicamente tua num delírio rapace

por onde tens andado que não encontras leitor?

de onde vieste por acaso não deixaste ouvintes?

talvez seja palavra que não se lê e nem se fala

aquela que troa feroz quando tudo mais se cala

e não baixa a guarda até o dia seguinte

letra por letra pregadas na carne

te deitas com sírios e acordas com alienígenas

cujas palavras estão gravadas em outro dicionário

que nada tem a ver com o teu peculiar dicionário

de rimas urbanas e erudição indígena

penso que jamais encontrarás quem compartilhe tua língua

todos são estrangeiros à procura de quem os entenda

o que são espadas diante da brigada sangrenta de tils e tremas?

soldados dispersos armados de verbos portando obscuros emblemas

ora falam persa, ora falam zenda