Eclipse

Segunda-feira, por que atentastes contra o trabalhador?

Por que continuas a ser o vergalhão da minha solidão?

Belas trabalhadoras perfumam-se para abandonar os lares

E, no calor dos trópicos,

Banham máquinas com lavanda artificial.

És o mal da boêmia!

És o mal da poesia!

Deixas os homens a trabalhar sem metrificação,

As mulheres perdem as rimas,

Principalmente, as crianças esquivam-se dos sonetos da infância.

Por que tendes de ser o demônio das provações?

Enchestes creches de guris barrigudos.

Por que fostes madrasta megera?

Ventre podre e sem ócio.

Acabou com alegria; pôs fim à folia;

Findou o samba e fixou o lamento.

Tu és o ponto e vírgula da minha alforria.

Homens que ousaram desafiar-te,

Encontram-se em presídios,

Mulheres que te espremeram entre as pernas,

Estão em puteiros.

Não nos enganemos, somos todos brasileiros.

Fostes a última dose do homem que mata a mulher.

Segunda, em destruição, és a primeira.

Saideira de boteco torce-lhe o nariz.

Trabalhador odeia-te primeiramente, segunda –feira.

Lamentei-te ontem; hoje, por necessidade, vivo-te.