P R E C I O S I D A D E S (108)
ODE Á TERRA
Terra,
quem
te mediu e te pôs
muros
arame,
fechos ?
Nasceste dividida ?
Quando os meteoros te cruzaram
e teu rosto crescia
desmoronando mares e penhascos,
quem repartiu teus dons,
entre uns quatro seres ?
Eu te acuso,
tiveste
abalos de morte,
tremores de catástrofe,
fizeste pó
de cidades, de aldeias,
das pobres casas cegas
de Chillán, destruíste
os arrabaldes de Valparaíso,
foste cólera
de iracunda potra
contra os aprazíveis habitantes
de minha pátria
e em troca
suportaste
a divisão injusta
de teus prédios,
não crepitou o arremesso
do vulcão aceso
contra o usurpador de território,
e em ti caiu não só o morto justo,
o que cumpriu seus dias,
mas também o fuzilado
perseguido
de quem roubaram campos e cavalos,
e que por fim dessangrou-se caindo
sobre tua pele impassível.
Teu duro inverno ao pobre deste,
a mina negra ao buscador ferido,
a toca foi para o abandonado,
o queimante calor ao filho do deserto,
e assim tua sombra injusta não deu consolo
a todos,
e teu fogo não foi bem repartido.
Terra, escuta e medita
nestas palavras,
dou-as ao vento para que voem,
cairão em teu ventre a germinar,
não mais batalhas, basta,
não queremos pagar terra com sangue;
queremos te amar,
mãe fecunda,
mãe do pão e do homem,
mas
mãe de todo o pão e de todos os homens.