Arquiteto de papelão
O poeta é um construtor sem teto...
Arquiteto exímio das palavras elabora versos como quem ergue palácios,
constrói castelos sublimes com uma linha apenas.
Mas é na sarjeta, ao relento, sobre um pedaço de papelão úmido e frio
que encontra a sua morada perfeita.
Poeta é assassino exímio.
Mata e oculta o cadáver sem deixar vestígios
depois, transforma o velório de caixão fechado
em evento espetacular de corpo ausente,
dizendo tratar-se de homenagem ao morto.
No circo armado pelo poeta:
- O vento dança com as formigas.
- As cigarras dançam com os cigarros.
- E a poesia reina soberana, enquanto impunemente
segue pela vida fazendo novas vítimas.