Inócuo

Tenta levar-me à ruína.

Tenta mais uma vez.

Afoga-se no vácuo cinzento.

Tenta destruir-me, mais uma vez.

Destrói o pouco que tem.

Tenta puxar-me para baixo.

E então vê que pode apenas rastejar sobre suas próprias fezes.

Tenta causar a mim uma fração do que é a tua desgraça.

Causa-te a ti mesmo o triplo do que tentaste contra mim.

Tenta, miserável, tenta realizar os teus desejos psicóticos.

Na tentativa de expurgar todas as suas lamúrias.

Tenta atacar-me, tenta invalidar-me.

Para finalmente obter vingança sobre aquilo o que te assusta todas as noites.

Sonha comigo, desgraçado.

Pois apenas lá é capaz de fazer qualquer coisa real contra mim.

Estende a mim a imagem que tem do seu nêmesis primordial.

Aquele que castrou-te quando criança.

Tenta me causar dor, perfurando a ti mesmo.

Despeja a tua raiva sobre a tua companheira, já que é indefesa.

Vinga-te da traição a céu aberto que aquela outra lhe aplicava.

Descarrega toda a tua raiva por ter sido sempre o bode expiatório.

Mas tenta causar-me qualquer desconforto.

Tenta ameaçar a integridade de meu ego.

Tenta, figura decadente. Tenta!

Pois aguardarei ansiosamente o seu agenciamento.

Este que tanto acreditas que de fato tem.

E quando finalmente o tentar,

Verei o teu apocalipse de cima para baixo,

Através de olhos no solado de meus pés.

Rafael Gonçalves
Enviado por Rafael Gonçalves em 30/03/2018
Código do texto: T6294600
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