AO SAIR, APAGUE A LUZ
saberás que estás velho
quando te acometer o tédio
a náusea causada pelo ir e vir
a indiferença ao atingir o periélio
saberás que não és mais o mesmo
quando a aridez de teu peito te negar uma lágrima
e, no oculto da madrugada, sonhares com flores
e acordares apenas com sede e tenesmo
pensarás apenas em teus ossos
quando estes de ti lembrarem em agonia
a cervical inútil, a rótula ressecada
pés titubeantes entre os detroços
e no topo de tua cabeça, a coroa ingrata
o certificado autenticado da juventude subtraída
o solidéu profano que tentas dissimular
debaixo de falso marrom ou aviltante escarlata
saberás que estás velho
quando o dia de ontem te parecer o medievo
com nomes e faces cotidianos e inexatos
e a serralha dos anos se alastrar por sobre teu epitélio
saberás que não haverá amanhã
quando teu hoje não adoçar os teus lábios
quando o anoitecer não anunciar o dia seguinte
e o falso marrom se despregar de tuas cãs
quererás apenas a controversa guarida da solidão
enquanto teu arcabouço cede ao peso do infinito
desejarás que cada átomo teu se liberte e flua
entregarás então a posse do chão