PERDIÇÃO
Tem algum sentido escrever?
Tem algum sentido
Saber que a mulher que você adora
Vive bêbada?
Tem algum sentido
Essas punhetas mecânicas
Todo final de tarde?
Tem sentido essas metáforas
Que vem juntas
Com essa solidão filosófica?
Chega dessa ilusão sacrossanta
Com essas premonições
Rabiscadas numa folha em branco
Estou à beira
Dessa embriaguez paranóica
Que me faz acreditar
Que nada faz sentido
À lá Neruda confesso que vivi
Talvez reste um sono profundo
E uns estilhaços em forma de poesia
Ressaltando todos os defeitos
Que eu trago comigo
E os vários sentimentos
Que eu não pude viver
Nessa paisagem inexistente
Talvez a magia das palavras
Diga alguma coisa
Solitário, atônito
Me perco pela noite afora