A minha hora do dia

A minha hora do dia

A noite se despedindo

Se despindo de sua escuridão

O dia lá vem vindo

Como tem vindo, desde então

O ar frio e sereno

A morte de um passado muito recente

No silêncio das vozes e da confusão humana

Apenas a minha

Que eu escuto

Enquanto eu penso na vida, pela milésima vez

Pensando em mim, em vocês

A cama me chamando de volta

Sempre à espera de um abraço

Nós, melancólicos

Adoramos as nuvens

Desprotegidos,

Somos desertos em busca de miragens

Os primeiros minutos são nossos

Em que o sol vai raiar outra vez

Faz do tempo um ritual religioso

O mito é sua transformação

Mas é tudo igual, a mesma loucura

O dia vai nascendo e revelando as mesmas ruas

Do primeiro olhar pra fora

Ainda dentro do sono

E eu, acreditando

que deveria ser mais assim

Silencioso, pacífico,

Enquanto eu me acostumo ao túmulo

A terra esquentou

A última noite apagou pra sempre

Eu continuo apagando e acendendo as minhas velas

Comemorando aniversários

Esperando mais um fim de madrugada

E mais um início de vida