Carta em branco
Na esquina da rua um estabelecimento,
Drogaria e artigos de toalete.
Ele seguia caminhando com um cigarro preso por entre os lábios.
A máquina de escrever em cima da mesa,
Abajur ligada, luz amarela,
Lia uma carta que acabara de chegar.
Não tinha assinatura, não tinha data,
E não tinha nada escrito.
Ironicamente isso representava tudo envolta;
As pessoas, as burocracias da cidade,
A fila de espera do banco, o ônibus,
O sol lá fora, o pão seco da venda da esquina.
E nesse movimento brusco e confuso,
Isso não representava nada.
A carta em branco não é diferente do que existe, porque nada existe, nada é, nada foi, e na maior profundidade da angústia, nada será.