Assombração
Logo agora?
Que quitei os crediários,
não me esquento com mazelas,
zerei problemas dentários
e já assopro tantas velas?
Essa não!
Sei tanta coisa de cor,
livrei-me da menopausa,
já não rimo amor com dor
nem me rebelo sem causa.
Não pode ser!
Só leio aquilo que eu quero
(mesmo assim, pra discordar);
me amarro num lero-lero,
brinco e amo atazanar!
Quero paz!
Minha vida está certinha:
Trabalho, casa, saídas.
Sou filha, mãe e avozinha
sem choros nem despedidas.
Desinfeta!
Vem você, morto e enterrado,
macumba das ampulhetas,
exumação do passado,
bagunçar minhas gavetas?
Sacanagem...
Tem espaço em meu sofá.
Tudo bem: Vou me render,
mas morro sem confessar
que esperava por você!
(Verônica Marzullo de Brito - 21/03/2018)