Rua Paraíba
na Rua Paraíba encontram-se os desencontrados.
as árvores curvam-se em melancolia
abraçando as putas e os viciados
que resistem; mais uma noite, mais um dia.
os carros vão e vêm, vidros semicerrados
esperança e medo - um trocado, um porre vulgar
a vertigem anestesiante, os corpos cansados
da vida sem viver, da noite sem luar.
na Rua Paraíba as pessoas esperam o tempo às avessas
o tempo que não volta, o tempo tarde demais
gestando a dor de sonhos partidos
com a cidade a se fechar sobre suas cabeças.
o diabo, que teme os filhos de ninguém
lança feitiços, pede a deus que interceda
mas é tudo em vão; entre esse mundo e o além
há uma Rua Paraíba, onde nada chega.
nesse mosaico de dores e cores
entre consumidos e consumidores
há sempre uma força intrigante
que paira sobre as cabeças errantes;
na Rua Paraíba há um encontro secreto
mediado pela amarga chama da sorte:
a força do instante mais precioso da vida
que é, precisamente, o que antecede a morte.