Rua Paraíba

na Rua Paraíba encontram-se os desencontrados.

as árvores curvam-se em melancolia

abraçando as putas e os viciados

que resistem; mais uma noite, mais um dia.

os carros vão e vêm, vidros semicerrados

esperança e medo - um trocado, um porre vulgar

a vertigem anestesiante, os corpos cansados

da vida sem viver, da noite sem luar.

na Rua Paraíba as pessoas esperam o tempo às avessas

o tempo que não volta, o tempo tarde demais

gestando a dor de sonhos partidos

com a cidade a se fechar sobre suas cabeças.

o diabo, que teme os filhos de ninguém

lança feitiços, pede a deus que interceda

mas é tudo em vão; entre esse mundo e o além

há uma Rua Paraíba, onde nada chega.

nesse mosaico de dores e cores

entre consumidos e consumidores

há sempre uma força intrigante

que paira sobre as cabeças errantes;

na Rua Paraíba há um encontro secreto

mediado pela amarga chama da sorte:

a força do instante mais precioso da vida

que é, precisamente, o que antecede a morte.

pedro toscan
Enviado por pedro toscan em 15/03/2018
Reeditado em 16/03/2018
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