Sede

Quero uma poesia que penetre em minh’alma,

E me faça por entre lágrimas

Sentir o gosto do riso:

– Nada foi perdido!

Quero mais que uma poesia,

De amor, – não quero poesia

Sem lâmina, sem sabor,

Sem cheiro, sem sangue,

Sem o pulsar de coração,

Sem elementos de vida,

De esperança. (Quem sabe apenas

Um ponto – o silêncio,

Menos suspiro e reticência

– ataque fulminante).

Quero mais do que palavras,

Quero o abraço que faça-me

Perder o fôlego, me sentir ofegante.

Quero licença poética,

E quebrar a censura, e ser livre

Para poder mandar alguém

Para onde eu quiser,

E também ser mandado

Ao bel prazer.

Quero o “vá ser livre”,

E “vamos sermos livres juntos”

(E que a liberdade não nos separe),

Quero a vírgula fora do lugar,

Só para confundir

E ser confundido.

Quero poder falar na forma

Que eu quero e bem entender,

E dizer que a gramática

Não me contaminou

Por inteiro,

– Quero ser critico

Da minha própria pessoa!

Quero uma poesia

Que sinta a minha dor,

E chore comigo,

Como se hoje fosse

O último dia,

– Hoje já passou…

Amanhã quero um conhaque,

Um cigarro qualquer,

E uma mulher,

Que não viva me fazendo

Juras de amor,

E minta todos os dias

Me amar.

Quero sentir o perigo da rua,

Da curva da poesia,

E da amada.

Embriagado, quero

Mais que poesia,

Muito mais do que poesia.

– Hoje vamos nos divertir!

– Até chegar no espaço!

– Fecha os olhos.

– Esquece esse mundo.

Palavras soltas,

Sem dono,

Em busca de serem encontradas.