Poemas para serem lidos em tardes de chuva

I – Descrição do Lugar

Ao fundo, mas muito longe,

descansa o ar descorado;

parece envelhecer o ambiente

e tem sempre a morte ao seu lado.

De sítios inexistentes

saltam melodias invernais,

à vezes tidas por sussurros,

mas que são prantos de pardais.

Escuta, meu coração:

há muita coisa escrita

no grito que vem da terra,

no homem triste que medita;

pense que um dia, talvez,

no lugar de um rude ruído,

o homem não venha a ter

nada lhe tampando o ouvido.

II – Nuvem Escura

Meu canto gris se assemelha à água que cai do céu, porque também cobre de tristeza o chão de ervas. Não se assemelha à luz do pensamento, limpa como aquela que irrompe na alvorada, mas ao agonizante canto de um pássaro morto. É calmo como aquelas figuras femininas, tão distantes que somem de repente, que só parecem existir em sonhos.

Por mais que se procure, não se encontra luz.

Nas árvores há a afirmação da dor, espécie de compromisso firmado com Deus; é na dor que pode crescer o amor pela vida e a negação da sua importância.

O que há de pesado na saudade?