O penugento
Quando leio o que escreveram os grandes poetas
Sinto-me como um pássaro em penugem
Que assiste tantos voos rasantes e majestosos
E enlouquece no ninho com vontade de voar
Mas a vontade acaba no primeiro pulo ou poema
No primeiro pulo fora do ninho se esborracha no chão
E no chão fica ao alcance de todos os seus predadores
E no chão vê que é impossível um penugento voar
Um penugento também não vai saber escrever poesias
Só tem penugem e nenhuma pena a sacar contra o papel
Poesia não é tarefa de pássaros, que em si são poesia
É tarefa de homens que sem asas se atrevem a voar
Se o penugento se livrar das cobras do chão
Se o penugento tiver sorte e um pouco de proteção
Poderá um dia escrever nos ares um poema
Contando toda sua imensa imaginação