Solitude

Solitude. Amo esse vocábulo. Mais que isso: amo viver. Solitude não é solidão, nem ausência, nem carência, nem falta ou lacuna. É apenas ser. É a glória – não egocêntrica – de ser. E não apenas ser, mas ser sozinho. É a glória de ser só. Embora haja a necessidade de interação humana arraigada nos corações, há também o desejo necessário de ser só. Não individualista. Não é disso que falo. Mas de ser livre sendo quem é, sem haver a carência de prestar contas, ou se vestir nas roupas da formalidade morta. É não precisar de métodos e regras e padrões e caixas e mentes quadradas. É ser!

Solitude, entre tantos, é liberdade. Sim: ser só é ser livre! Livre de horários, lugares, roupas e dieta. É sem receio ouvir a música que se quer, no volume que se quer, na plataforma que se quer. É fazer aquele assalto à geladeira às 03h sem medo de ser feliz. Fugir um pouco dos horários e decepcionar o despertador. Deixá-lo ficar sem voz enquanto vagueia no mundo dos sonhos. Sim! É disso que falo: de caminhar com a roupa que quiser – se quiser – quando quiser. Ler poesia ou artigo científico às 06h ou à meia noite. Sem espaço pra pressões acadêmicas. Solitude é decidir se chá de camomila ou gengibre, ou mesmo se café ou coca cola. Por que te deixa bem. Só por isso. Porque se quer tomar e ponto!

Solitude é ser pleno sozinho. É ir ao cinema só. E não há nada de anormal em fazer isso. Ninguém senta acompanhado pra assistir. Apenas senta. É ir ao parque ou ao shopping sem saltos, vestidos e brincos. É ir, apenas. É não tá preso ao padrão que diz que deve ir de tênis azul, contrastando com o preto da camisa e uma camisa que evidencie os músculos. Mas, tão bem quanto os que assim vão, é ir leve e solto com aquela sandália de dedinho e a bermuda de todo domingo. É ir a temakeria ou hamburgueria saborear o cardápio consigo. Sem pressa. A solitude não é como a solidão que tem pressa. Pressa que chegue alguém, que alguém o complete, que alguém interrompa o silêncio dizendo que ama. Se nem você se ama, qual a utilidade de o outro dizer isso?

Solitude é essa virtude esquecida. É a solidez nos tempos líquidos. É a glória. A glória de ser só. É, mesmo só, não se sentir só. Antes, é sentir-se acompanhado por si mesmo. É a inimiga da solidão. Solidão não é deserto. Solitude é. E deserto não é ruim quando se está sozinho e muito bem acompanhado. Pior que tá só num deserto é se sentir sozinho enquanto tapinhas são dadas nas costas e apertos de mãos não se contam... Deserto é um palco. Um palco imenso no qual você protagoniza seu monólogo. Solidão é o que te faz apelar por conversas, likes, “ameis”, shoppings, holofotes, companhia, companhia, companhia, outro, outro, outro. Solidão é o que alimenta a ideia banal que o outro te completa. Mas não é de solidão que quero falar. É de solitude. É da glória – não egocêntrica – de ser. E não apenas ser, mas ser sozinho. É a glória de ser só.

MottaLucas
Enviado por MottaLucas em 07/03/2018
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