1965
Doce de batata-doce,
bolo de puba, filhós, alfenins,
menino de recados,
indo num pé,
voltando no outro,
ai se não fosse,
carretel de linha
pra Dona Quininha,
no mercado central
de Juazeiro do Norte,
o troco era meu.
Menino de calça puída,
mijando nos becos,
soltando pipas,
bolas de meia,
esfolando o dedão,
bolas de gude,
cavaco Chinês,
caldo de cana e pastel,
amendoim torradinho,
engabelando os guris,
barganhando gibis
lá no Cine Eldorado,
guiando beradeiro
nas ruas de Juazeiro,
falsendo relíquias,
explorando a devoção,
vendendo aos romeiros
pedacinhos da batina
do Padre Cicero Romão,
nota 10 só em geografia,
colava na prova toda,
eu sabia que não sabia,
a Professora Nenê Flor
me dava 10 com louvor.
Antenado nos velórios,
filando aluás gelados
ignorando os velados.
moleque muito doido,
bulindo com os doidos:
João Remexe Bucho,
Principe Ribamar,
Doca, Pibite, Tetê.
No nado cahorrinho,
submergia na lama,
bebia da água barrenta
do doce rio Salgadinho,
eu não sabia nadar.
Escapulindo de casa,
nos treinos do Icasa,
pra ver meus ídolos,
Luciano, Lino, Ramos,
Joãozinho, Pirajá,
craques do Verdão mortal,
1965- campeão municipal.
Missas nos Franciscanos,
jogando bola no Salesiano,
rolês na igreja matriz,
viciado nas peladas,
no Quadro de São Luiz,
nada de notebook,
WhatsApp, Facebook.
Vixi, como eu era feliz!!
Autor Benedito Morais de Carvalho (Benê)
Livro: A poesia da calçada não vende ilusão
Scortecci Editora (2020)
2a edição esgotada